sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Humor fino

Sem computador por alguns dias, o que não deixa de ser uma coisa boa, também.

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Assistí ao filme "A Era do Rádio", do Woody Allen. É um filho prodígio dele, e prova de todo seu talento como um dos grandes cineastas das últimas décadas a gravar nos EUA e até fora dele, ultimamente. É um humor fino, com classe, inegavelmente cinematográfico. Além de tudo, é uma declaração de amor ao Rádio.  

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Espelhos

Tóquio é mesmo um espelho da humanidade nos tempos modernos (ou hipermodernos).
Por outro lado, a África também. 

domingo, 23 de agosto de 2009

E os filmes estrangeiros

Saí muito contente e orgulhoso da mostra estrangeira. É incrível como a América Latina tem produzido coisas de qualidade no Cinema, de qualidade mesmo. Um Cinema vigoroso, honesto e humano.
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"La Próxima Estación" não deve pegar tanto público de fora da Argentina, por questões geográficas, talvez. O documentário que trata das questões do transporte público dos hermanos, mais precisamente, dos trens, é bem feito, tem um diretor com forte desejo de produzir sua obra (por mais que possa soar panfletário em alguns momentos, o que não é necessariamente, ruim) e conseguiu belos depoimentos. A única dificuldade que tive foi de me localizar mesmo. Não fica muito claro se os problemas decorrentes da privatização do serviço afetaram todo o país, ou só uma região, o que às vezes prejudica o envolvimento com o filme. Talvez um excesso histórico no segundo capítulo, também...
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"La Teta Asustada" ganhou Berlim, Guadalaraja e era muito aguardado. Levou o Kikito de melhor filme estrangeiro, além de outros prêmios, como para atriz. Técnicamente impecável, o longa é de uma beleza plástica muito competente. A direção cuidadosa de Claudio Llosa é certa; cada plano parece ter tido atenção especial. Contudo, a personagem principal é tão difícil, tão dura, tão fechada, que fica dificil o envolvimento. 
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"Nochebuena" passou na mesma noite que Corumbiara. Pra mim, em termos gerais, a melhor noite do festival. O longa colombiano conduz a narrativa com uma agilidade que não destoa, tecendo um ritmo que vai crescendo como um vulcão em erupção, até chegar no clímax, um tanto lacônico, pra que tenha uma coda, no mínimo, inusitada. É humor negro puro, daqueles que não te deixa caindo em gargalhada, mas com um sorriso no canto da boca, e pensando: "que merda de homem nós somos".
PS:  A equipe do filme é maravilhosamente calorosa. Kikito de simpatia para eles.
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"Lluvia" tem os melhores 15 minutos iniciais do festival. Talvez até mais. O início do filme é belíssimo e muito bem filmado. A história de amor (?), talvez a história de um "encontro" entre duas pessoas em Buenos Aires, é madura, honesta e tocante. Talvez em um momento, Paula Hernandez, a diretora, tenha focado muito os dramas íntimos e em silêncio, das suas personagens, sem antes apresentá-las pro público, o que pode refletir em certa lentidão da narrativa. Mas, no fim das contas, é um belo exemplo de Cinema argentino, latino, e até mesmo mundial.
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Uma história sobre um homem de uns 1,90m de altura, segurança de dois lugares diferentes, com postura sisuda, que se apaixona por uma profissional de limpeza, e ainda por cima, é entitulado "Gigante", poderia render qualquer impressão. Ao acender as telas da sala de Cinema, um dos membros do júri falou: "achei o filme, meigo". E essa é a verdade.
Quase que um filme mudo, a história de obsessão desse homem é tão bela, simples, que é impossível não se envolver. Por trás de toda aquela massa, há uma pessoa completamente boa, sensível, e o longa narra isso com extrema sinceridade e respeito. É exemplo de Cinema humano, de uma obra de arte mesmo. Reitero novamente a questão da ausência de diálogos do filme, que é driblada perfeitamente. Não foi o que votei, mas na minha opinião, a melhor obra de ficção de todo o festival de Gramado.
PS Final: Percebi que não falo quase que nada sobre a história dos filmes, o que deve ser um saco pra quem não assistiu nenhum deles, entender algo. Sinto muito, mas além do tempo ser curto, a distância do festival já me impede de escrever muito mais, apesar de alguns filmes, merecerem isso.

Sobre os filmes

Dizem que os filmes selecionados em Gramado nunca dão campeões de bilheteria. Considerando essa edição, em particular, eu concordaria. Mas também, que festivais de Cinema dão?
Boa parte das pessoas com que tive contato lá, estavam um tanto divididas quanto a qualidade da mostra. De fato, eu diria que os longas nacionais estavam realmente irregulares. Os maiores acertos talvez tenham sido os dois documentários exibidos, fato não muito comum - e uma surpresa muito agradável. 
Já os longas estrangeiros (lê-se latino-americanos) estão mais que de parabéns. Boa parte deles já havia sido exibida no festival de Guadalaraja (AXN não é só ação, galera), com destaque para dois que haviam estado em Berlim, um dos maiores festivais de Cinema do mundo.   
De qualquer modo, sempre penso que só o fato de assistir a um filme já vale à pena. É claro que existem lá suas exceções, e também sou suspeito em falar, mas foi extremamente válido assistir cada uma das onze obras, sem contar com os curtas (perdí a conta de quantos foram).
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Quando Sérgio Silva, o diretor de "Quase um Tango", longa que abriu a mostra competitiva, subiu ao palco, eu simpatizei com ele rápido. Ao menos pra mim, claramente ele se dedicou ao filme, foi um trabalho feito de coração. Ele queria se comunicar através dele. O que parece é que o sotaque de gaúcho do Marcos Palmeira, que interpreta o protagonista Batavo, não convenceu nem um pouco. Apesar de concordar com isso, acredito que ele tenha se esforçado no papel, sem saber que o resultado final seria esse. Aliás, falando em resultado final, o grande problema que Sérgio Silva encontrou foi justamente na direção da narrativa. Por algum motivo, quase tudo parece superficial na obra, e isso não se restringe só a sotaques.
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"Canção de Baal" obteve aplausos um pouco tímidos quando as luzes acenderam. O público estava claramente dividido, e talvez perturbado também. Por mais que a direção de Helena Ignez seja bastante precisa, como bem observou meu chará e companheiro de júri Victor Rosa, a roupagem dadaística do longa afasta mais do que atrai. Quando o filme acabou, eu só lembrava do livro "Noites na Taverna" e na minha cabeça as palavras "dadaísmo cinematográfico" apareciam. Isso é ruim? Não sei. Não sei nem se essa minha interpretação está coerente. Mas se estivesse correta, eu diria então: dadaísmo cinematográfico, com tudo que isso tem de bom e ruim.
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"Cildo" é um filme de um diretor jovem, mas que conseguiu transportar para a estética do documentário a alma da obra de Cildo Meireles; parece até que o longa foi dirigido pelo mesmo. Sem dúvidas é um filme competente, e já foi premiado por estar em Gramado.
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Perdí o discurso do Vincent Carelli, quando o mesmo apresentava seu documentário (?). Mas nunca, em nenhum outro momento do festival, isso não fez tanta falta para conhecer um pouco do realizador de um filme. Quando se termina de assistir "Corumbiara", você se sente tão íntimo de Vincent, que a sua única vontade é lhe dar um grande abraço, por toda sua bravura, trabalho, força, ou qualquer outra palavra que sirva pra classificar algo glorioso. E foi o que houve, Vincent Carelli e Marcelo, o digamos "protagonista" de seu documentário, devem ter sido os caras mais abraçados de todo o festival (em segundo lugar, o elenco de Nochuebuena, que falarei mais adiante).
Não tenho palavras para falar sobre "Corumbiara". Ouví dizer que alguns críticos acharam que ele tinha mais de reportagem e pouco de Cinema. Entendo, respeito, pode até estar certo, mas eu não consigo concordar. "Corumbiara" (vou repetir esse nome mesmo, pra que ninguém esqueça) é o longa do festival que mais reúne elementos que compõe alguma obra de arte qualquer. Você não só sente a mão de seu autor, como entra em uma ligação com ele durante as duas horas de documentário. Uma ligação íntima, conforme disse, algo louvável para um documentário - mais louvável ainda, se fosse para uma reportagem. O filme tem uma alma brasileira, que, querendo-se, pode ser percebida facilmente. Uma alma brasileira e humilde, simples, assim como o povo.
Em nenhum momento Vincent cai na tentação de ser sensacionalista ou piegas, nem de botar lágrimas nos olhos do espectador. Mesmo assim, ouví dizer que muita gente chorou com o final do filme. Só do júri, acho que uns 3.
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"Em teu nome" provavelmente foi o longa mais aplaudido do festival. Isso se dá por diversos motivos, como um forte bairrismo e também pela temática, sobre os efeitos da ditadura, mais precisamente, o exílio, que toca no espectador. Apesar disso, não se sente uma mão tão firme do realizador durante o filme, e o que vemos é uma chuva de fade-outs que atrapalha um pouco, além de também uma falta de costura melhor entre as cenas.
Ainda assim, na última imagem, quando entra na tela as pessoas reais que deram inspiração aos personagens do filme, eu também sentí uma fisgada. E, independente de quaisquer problemas técnicos-narrativos, o filme emocionou muita gente. Acho que isso faz parte da magia do Cinema. É o que importa.
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Por fim, "Corpos Celestes", um dos mais aguardados filmes dessa 37ª edição de Gramado. O nome de Marcos Jorge ("Estômago") prometia bastante, e o currículo de Fernando Severo, também. Contudo, tive a impressão que o longa não se decidiu sobre o que era. Os diretores e roteiristas pareciam não saber muito bem à o quê dar atenção, e sobre o que era a história. No fim, essa foi minha sensação: assisti a um filme sem saber exatamente que história ele queria contar. Claro que alguns defendem que Cinema não é só a história que se conta (e não é mesmo), mas quando se conta duas ao mesmo tempo, precisamos saber qual delas é a principal e qual não é, até mesmo pra saber quando e como terminá-las. Curiosamente, saí do Cinema com a impressão de que era um filme à se ver de novo...

Gramado

Foi com certa descrença que aceitei participar do concurso do Jornal do Brasil. Com certeza vou dever ao Thiago pelo resto da minha vida, já que ele praticamente me empurrou na tal promoção. Se eu tivesse visto, é quase certo que sequer tentasse. Nunca tinha ganhado nada do tipo antes, e só me imaginava em Gramado daqui há alguns anos, de preferência, com um (bom) filme, já que lá é um dos grandes festivais de Cinema do país e da América Latina. Acabou que um pequeno texto sobre o belo filme "Deserto Feliz" e o Thiago, me levaram até lá. Ah, e é claro, o JB também.
Fora uma turbulência mínima no vôo de volta - pra quem não está acostumado, qualquer treme-treme é caos - a viagem foi indescritivelmente boa. Não só pelo contato diário e intenso com o Cinema, mas também por tudo que foi vivido lá, não só por mim, mas como por todos os companheiros de júri e também cineastas que se cruzaram por lá. Não fosse Gramado, dificilmente eu estaria escrevendo em um blog, algo que eu sempre me senti incapaz - nada pessoal, mas meu recorde em blogs é de três postagens/ano. Por causa de alguns amigos que dividiram a missão de ser jurado comigo, cheguei a conclusão que esse seria um bom espaço pra expressar opiniões sobre momentos como esse.  Valeu Júlia e Victor (não é esse que tá escrevendo não, é outro, mais conhecido como "Floripa"). Aliás, o estopim foi ver hoje o blog de uma amiga querida, a Luar, e perceber que alguém pode sobreviver escrevendo 4 vezes num blog ao longo do ano. Agora não vou ficar mais com a consciência pesada.
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Eu moro no Rio há 19 anos e vergonhosamente nunca fui ao Festival do Rio, por diversos motivos, sejam eles de tempo, financeiros ou outros. Mas ainda assim, desconfio que o festival da minha cidade seja bastante diferente de Gramado. Não melhor nem pior, simplesmente diferente. Aqui os filmes passam em salas de Cinema diferentes, em vários lugares da cidade e em dias diferentes; lá, é basicamente em um lugar, que eles chamam de Palácio. A condição de cidade turística de Gramado favorece bastante pra que essa diferença se acentue. Lá, o lugar simplesmente respira o festival; a cidade se vira inteiramente ao Festival de Cinema. O mesmo, infelizmente e por várias razões, não acontece aqui. Talvez por isso, um evento como esses represente mais o que é a experiência de estar em um festival de Cinema. É claro que o tapete vermelho ajuda, mas isso é outra história...