domingo, 23 de agosto de 2009

E os filmes estrangeiros

Saí muito contente e orgulhoso da mostra estrangeira. É incrível como a América Latina tem produzido coisas de qualidade no Cinema, de qualidade mesmo. Um Cinema vigoroso, honesto e humano.
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"La Próxima Estación" não deve pegar tanto público de fora da Argentina, por questões geográficas, talvez. O documentário que trata das questões do transporte público dos hermanos, mais precisamente, dos trens, é bem feito, tem um diretor com forte desejo de produzir sua obra (por mais que possa soar panfletário em alguns momentos, o que não é necessariamente, ruim) e conseguiu belos depoimentos. A única dificuldade que tive foi de me localizar mesmo. Não fica muito claro se os problemas decorrentes da privatização do serviço afetaram todo o país, ou só uma região, o que às vezes prejudica o envolvimento com o filme. Talvez um excesso histórico no segundo capítulo, também...
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"La Teta Asustada" ganhou Berlim, Guadalaraja e era muito aguardado. Levou o Kikito de melhor filme estrangeiro, além de outros prêmios, como para atriz. Técnicamente impecável, o longa é de uma beleza plástica muito competente. A direção cuidadosa de Claudio Llosa é certa; cada plano parece ter tido atenção especial. Contudo, a personagem principal é tão difícil, tão dura, tão fechada, que fica dificil o envolvimento. 
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"Nochebuena" passou na mesma noite que Corumbiara. Pra mim, em termos gerais, a melhor noite do festival. O longa colombiano conduz a narrativa com uma agilidade que não destoa, tecendo um ritmo que vai crescendo como um vulcão em erupção, até chegar no clímax, um tanto lacônico, pra que tenha uma coda, no mínimo, inusitada. É humor negro puro, daqueles que não te deixa caindo em gargalhada, mas com um sorriso no canto da boca, e pensando: "que merda de homem nós somos".
PS:  A equipe do filme é maravilhosamente calorosa. Kikito de simpatia para eles.
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"Lluvia" tem os melhores 15 minutos iniciais do festival. Talvez até mais. O início do filme é belíssimo e muito bem filmado. A história de amor (?), talvez a história de um "encontro" entre duas pessoas em Buenos Aires, é madura, honesta e tocante. Talvez em um momento, Paula Hernandez, a diretora, tenha focado muito os dramas íntimos e em silêncio, das suas personagens, sem antes apresentá-las pro público, o que pode refletir em certa lentidão da narrativa. Mas, no fim das contas, é um belo exemplo de Cinema argentino, latino, e até mesmo mundial.
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Uma história sobre um homem de uns 1,90m de altura, segurança de dois lugares diferentes, com postura sisuda, que se apaixona por uma profissional de limpeza, e ainda por cima, é entitulado "Gigante", poderia render qualquer impressão. Ao acender as telas da sala de Cinema, um dos membros do júri falou: "achei o filme, meigo". E essa é a verdade.
Quase que um filme mudo, a história de obsessão desse homem é tão bela, simples, que é impossível não se envolver. Por trás de toda aquela massa, há uma pessoa completamente boa, sensível, e o longa narra isso com extrema sinceridade e respeito. É exemplo de Cinema humano, de uma obra de arte mesmo. Reitero novamente a questão da ausência de diálogos do filme, que é driblada perfeitamente. Não foi o que votei, mas na minha opinião, a melhor obra de ficção de todo o festival de Gramado.
PS Final: Percebi que não falo quase que nada sobre a história dos filmes, o que deve ser um saco pra quem não assistiu nenhum deles, entender algo. Sinto muito, mas além do tempo ser curto, a distância do festival já me impede de escrever muito mais, apesar de alguns filmes, merecerem isso.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. mesmo que eu não tivesse visto os filmes, eu ia compreender e contiuar a gostar do que tu escreveu :)

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