quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Diários de Motocicleta



Walter Salles é um dos maiores nomes do Cinema mundial contemporâneo. Isso não é exagero: o cineasta não só é um dos grandes responsáveis pela recolocação do Cinema Brasileiro no mapa, como também simplesmente é um dos realizadores mais admirados em todo o mundo. Há algo em seus filmes, uma espécie de tom humanista muito sincero, minimalista e ao mesmo tempo poético, que encanta artistas e admiradores da sétima arte.

"Diários de Motocicleta", um dos passos mais ambiciosos do diretor até então, não é só um de seus trabalhos mais maduros, mas também um dos grandes filmes feitos na América Latina em toda a década. Isso se dá não só por (bons) méritos cinematográficos: o longa baseado na viagem de Ernesto Guevara e Alberto Granado tem o poder de respirar um continente inteiro, e isso não é pouca coisa. É uma obra de pertencimento.

São muitos os méritos do trabalho de Walter Salles: o acerto preciso de se filmar em 16mm, para dar o clima intimista necessário ao filme; as atuações igualmente precisas dos talentosos Gael Garcia Bernal e Rodrigo de la Serna (primo de segundo grau do verdadeiro "Che"), ricas em nuances; a trilha do sempre impecável Gustavo Santaollala; a fotografia e o bom uso da estética mais próxima de um estilo documental. A equipe de "Diários de Motocicleta", que ainda conta com Robert Redford como um dos produtores, sabia da empreitada artística que estava incubida ao assumir a ambição de filmar a viagem que transformou o jovem Ernesto em um dos líderes políticos mais importantes do século passado. Essa consciência, mesclada com respeito e fidelidade ao espírito dessa viagem e de seus protagonistas (todos eles, não só os viajantes, mas também quem cruzou o caminho deles e vice-versa), pode ser encontrada no filme. E é exatamente isso também que faz com que "Diários" seja especial.  

Há momentos chave para entender e sentir toda essa afirmação cultural da América Latina - inclusive como continente integrado. A própria estética já traz a sugestão. E a mão de Walter, tão presente em todo o filme, merece ao menos um destaque particular: a comovente sequência do leprosário de San Pablo. Ela é a maior prova do talento humanista de se contar estórias e histórias através do Cinema que o cineasta tem. É um momento do longa muito vivo, orgânico, que é tocante sem ser pedante. "Diários de Motocicleta" está repleto desse toque de vida; é um filme orgânico, em outras palavras.

E em momentos como esse que se evidencia o porquê do Cinema de Walter Salles ser um Cinema de respeito em todo o mundo: porque sua obra é uma obra que respeita a arte em si, e mais importante, o próprio homem.

Um comentário:

  1. concordo ctg, principalmente no que se diz respeito a: "obra que respeita a arte em si, e mais importante, o próprio homem."
    Walter é um grande nome e, acredito eu, um grande homem =)

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