segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Despertar da Primavera, Claudio Torres e Lua Nova



Tempos de muita correria, acabei deixando de postar qualquer coisa aqui faz muito tempo. Sempre pensei que um blog meu não teria uma vida útil muito longa, mas vou tentar contrariar mais um pouco essa minha impressão.

Nesse meio tempo, assisti duas coisas que me pareceram pertencer a quase um mesmo movimento artístico: a peça musical "O Despertar da Primavera", bom sucesso no circuito teatral do Rio e aposto dizer que do ano inteiro, e o filme de longa-metragem "Lua Nova", sequência da saga "Crepúsculo", baseada nos best sellers que vieram pra substituir a franquia de "Harry Potter" nos bolsos de Hollywood.

Essa opinião pode soar meio estranha, inclusive uma fã de ambos discordou de mim. "O Despertar" é de um texto escrito há mais de um século, enquanto o filão de "Crepúsculo" chegou a pouco tempo. Mas os dois guardam não só semelhanças estéticas, como também de linguagem. O elenco pode ser facilmente comparado com o de outra, ao menos fisicamente falando: eles parecem pertencer a mesma geração, a mesma tribo. As duas obras falam sobre e para os jovens. E ambas suavizam e amenizam consideravelmente em certos momentos de maior impacto por serem feitas para um público da faixa de 12/14 anos em diante.

"O Despertar da Primavera" me deixou muito intrigado. Não só com a peça, mas comigo mesmo. Eu via a reação da maior parte das pessoas ao meu redor, de fascínio, de quase adoração (muita gente vê a peça mais de uma vez, generosamente falando), enquanto que eu estava bem pensativo. Tecnicamente, a peça é impecável; digamos que a mise-en-scène de palco é excelente. O controle das ações dos atores, as diferentes coreografias que acontecem silmultâneamente, tudo, tudo é impressioante.

O elenco também merece destaque. Independente de juízos de valor, percebe-se claramente que quase todos ali - jovens basicamente, com exceção de dois atores - agarram a oportunidade de estar em uma produção de tal porte (o musical vem da Broadway) com unhas e dentes. Algumas atuações são de fato incríveis.

Tendo em vista tudo isso, então, fiquei pensando porque diabos não compartilhava com todos os outros aquela mesma reação. E aí que vem em questão o cineasta brasileiro Claudio Torres. Claudio é filho da nossa grande atriz Fernanda Montenegro, e irmão da Fernanda Torres. Tem a arte na mesa de jantar. Diretor de "Redentor", "A Mulher do Meu Amigo" e "A Mulher Invisível". Confesso que nunca vi nenhum desses filmes, mas ao assistir uma palestra dele no Espaço Telezoom, passei a admirá-lo mesmo sem conhecer seu trabalho.

Ele simplesmente tem uma visão de Cinema, de produção, de trabalho (e mercado de trabalho, por que não?) da sétima arte no Brasil e no mundo, que falta não só em alguns cineastas, mas também em muitos estudantes de Cinema. É claro que muito das questões que envolvem o chamado "Cinema Comercial" (rótulo totalmente discutível, e que discordo quase sempre), assim como também o "Cinema de Arte", merecem uma atenção e reflexão séria. E é claro que isso envolve, de certa forma, produção da Broadway e montagens de Brecht, por exemplo.

E então que cheguei a uma conclusão (não muito conclusiva, eu acho) sobre a crítica, nossa crítica mesmo, a respeito das obras de arte em geral. Até que ponto uma obra - seja ela teatro, cinema, - é ruim, tem problemas de fato, ou ela simplesmente não é a obra que gostaríamos de ver? Há uma linha bem tênue que separa esses dois extremos. Mas acho que essa consideração deve ser sempre levada ao fazer qualquer juízo de valor a respeito de uma obra de arte (e sempre vão dizer que às vezes não se tratam de obras de arte, mas sim de produtos comerciais, o que não deixa de ser verdade algumas vezes).

Então fiquei pensando que "O Despertar da Primavera" não me agradou tanto porque queria ver mais; que a abordagem tivesse ido mais além. A peça trata de temas bem pertinentes ainda hoje - revolucionários na época que foi escrita, na Alemanha do século XIX por Frank Wedekind, que curiosamente influenciou Brecht.Fala sobre ruptura, mas não traz rupturas de linguagem, do padrão já estabelecido da Broadway e até de Hollywood de contar estórias e de como contar. Ela quer falar sobre a dor daqueles personagens, mas não machuca. No final das contas, eu a achei divertida, mas não forte ou chocante como alguns taxaram. Realmente quem diz isso nunca viu "Anticristo" ou algum outro filme do Lars Von Trier, por exemplo. Não dá pra ver um filme desses toda semana.

É claro que no que diz respeito a sensações que tive na peça, são coisas provavelmente mais pessoais; para outros (muitos outros, pelo visto), foram sensações diferente. E faz parte da arte falar para cada um de maneira particular muitas vezes.

Ah, e quanto a "Lua Nova", deixo o José Mojica, nosso querido Zé do Caixão, falar: http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1402745-7086,00-ZE+DO+CAIXAO+DETONA+LUA+NOVA+DETESTO+VAMPIRO+MAQUIADO+E+FALTA+SEXO+NESSA+FI.html

3 comentários:

  1. Poxa Victor, tu disse muita coisa coerente. Ainda bem que tu resovleu atualizar aqui! Continua, não para!

    P.S: ri mt com o texto de "zé do caixão" haha.

    Beijo!
    Méle
    (ah, atualizei lá o meu tb, depois de mt tempo tb hehe)

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  2. Acabei de escrever sobre a peça e achei seu blog. Também não fui tocada pela peça (e parece que fomos os únicos)...

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  3. ÓTIMO seu texto, cara.

    E vou ver "A Mulher Invisível" aqui pois disseram que é muito bom.

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